quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O caminho pela Toscana



Nos dias seguintes Guglielmo não deixou de pensar em que caminho iria percorrer com sua família, se precisasse deixar San Leonardo. Entendia mais que qualquer pessoa a resistência de Giovanna. Também era sua. Não deixaria sua casa, sua história, a não ser em último momento, sobretudo para dar mais garantias a sua família. Possa ser que em seu inconsciente quisesse conhecer outras terras. De toda forma, poderia fazer a travessia para a América, passar alguns anos e voltar. Assim, não deixou de ser cúmplice do seu braço de confiança, além de Giovanna. Procurou Nicodemos e com ele conversaram sobre a situação política e instável da Itália. Seu irmão lhe aconselhou a resistirem juntos e não deixar a pátria de Montefeltro. Discutiram por horas e muitos dias depois - as possibilidades. Guglielmo, depois da chegada do mensageiro, dizia a Nicodemos que eram muitas as oportunidades do outro lado do oceano, como a existência de grandes extensões de terras, e a falta de mão de obra para 'lavorar' em plantações de café, uma vez que detinham esse conhecimento de longa data, pelas gerações dos Stacciarinis. Mesmo assim contrariavam-se, ao sentido de que não deviam se separar do Casarão e toda a história de suas famílias, qualquer que fosse a situação e oportunidades. Todavia,em seu âmago, Guglielmo percebia que atravessar a Toscana e, alcançar o Porto de Gênova,
pudesse se tornar uma realidade. Não tinha como explicar esse sentimento.

Pensou então:
Partindo de San Leo, iria se preciso fosse, pelos caminhos mais alternativos até Pontassieve - lá chegando poderiam descansar uma noite ou tarde, ou mesmo algumas horas, já que se preocupava especialmente com Cirilo que tinha apenas um ano de idade. Depois não iria pelos caminhos convencionais, já que o estado de agitação na Itália era preocupante. Assim, conhecedor que era de matemática e geografia, analisou e viu como alternativa alcançar Firenze e o Rio Arno. Isso mesmo! Iria seguir pelo Rio Arno, margeando suas curvas até Pisa. Por isso era tão importante que descansassem em Pontassieve. Com os pés em Pisa, estaria mais tranquilo, isto pois, sabia que o caminho, então, até Gênova seria mais tumultuado e de certa forma, com o marchar de outros grupos de imigrantes estariam mais seguros. Preferia não pensar nesse termo - "Imigrantes".

Continuava a pensar:
- Giovanna aveva ragione ... essere un immigrato dalla nostra stessa storia, era tradire se stesso e la sua famiglia. Ma che cosa potrebbe fare ti rendi conto che la sua famiglia era in pericolo..... E 'stato richiesto anche pensare che in America potrebbe dare molto ai tuoi figli e nipoti. Poi, dopo, ritornare l'Itália. Questo Giovanna bisogno di capire.

Finalizava sua viagem imaginária pela Toscana, indo de Pisa - onde passariam um dia no máximo, se fosse preciso dois, então seguiriam para Gênova. Agora era preciso saber quais as datas de expedições pelos navios subsidiados pelo Governo italiano ou brasileiro para a América. Já era sabido que a maioria desses navios atracariam em San Paolo. De toda forma, ia dispor de alguns bens e reservar uma quantia em dinheiro, além de alguns objetos de valor para caso alguma permuta durante a passagem pela Toscana. Hoje ainda iria conversar seriamente com Giovanna.

Algumas semanas depois estavam a avistar a imagem da postagem.
Era Pontassieve. Giovanna ainda supunha que alguma coisa pudesse acontecer no decorrer da Toscana. Lembrou-se de Santa Lucia e a ela se apegou:
- Deus que seja o melhor para minha família e meu esposo amado. Mas, se puder, não nos deixe partir para o Brasile. Assim avistando melhor Pontassieve.

Notas:
Pontassieve leva o seu nome a partir da ponte que permitiu a conexão entre Firenze e a Valdisieve, entre Arezzo e Valdarno. Seu valor estratégico, convenceu a República Florentina a construir uma imponente fortaleza, o Castello di San Michele Arcangelo, que no final do XIV tornou-se o centro administrativo da região.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Cruzando a Toscana





Naquele por do sol, o Casarão Stacciarini, ficou silencioso e movimentado. As notícias que vinham da capital à sequência de tantos fatos históricos desde a queda de Roma, não eram das melhores. Giovanna pediu a ama que viagiasse os filhos e postou-se ao lado de Gugliemo - o tempo todo. O marido dizia que o deixasse, que precisava pensar melhor e conversar com os amigos e, enviou um mensageiro até Firenze para trazer notícias mais concretas.

Foi nesse por de sol - que se ouviu o tropel do cavalo: o mensageiro chegava.
A poeira esvoaçava na paisagem de Colina e as janelas do Casarão estavam fechadas.

Guglielmo adiantou-se na estrada de Colina e Giovanna corria em sua direção, silenciosa mas a dar tutela ao seu amado, não o deixaria só em nenhum instante sequer. Não queria saber, Giovanna era assim, metia-se nos assuntos dos homens quando o assunto era seu esposo amado. E, por ele foi capaz de tudo.

O mensageiro conversou, de forma séria e preocupada com Guglielmo.
Não menos séria era a expressão que se formava no semblante de Giovanna.
Entendia claramente que o Governo Italiano estava incentivando a imigração italiana, subsidiando passagens e a travessia para a América.

- Non, non'è verità!
Giovanna esquivava seus pensamentos para todas as direções, menos para esta. A imigração não estava nos seus planos.

Sendo acolhido o mensageiro, para providencial descanso da viagem, Guglielmo sentou-se no campo de girassóis no lado oeste do Casarão e ficou pensativo vendo a noite chegar.
Giovanna se aproximou dele, angustiada que estava.
Abraçou-o e ficou junto dele vendo a noite cair.

Em poucos dias iam iniciar a viagem pela Toscana, rumo ao porto de Gênova.
Melhor dizendo, rumo ao Brasile.
Nesse momento, Giovanna ainda pensava que seria capaz de não deixar que isso acontecesse.

Foi uma noite bela e ali ficaram por toda ela:
vendo as estrelas e sentido a brisa dos girassóis
Amando-se como nunca mais teriam a oportunidade de fazer em terras italianas, nos campos de Colina.

Giovanna adormeceu nos braços de Guglielmo.....
Isso não se sabe,
possa sim ter sido o contrário.
E assim ia ser até que a última estrela cadente pudesse descer do céu.
Em qualquer lugar em qualquer tempo em qualquer terra.