quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O caminho pela Toscana



Nos dias seguintes Guglielmo não deixou de pensar em que caminho iria percorrer com sua família, se precisasse deixar San Leonardo. Entendia mais que qualquer pessoa a resistência de Giovanna. Também era sua. Não deixaria sua casa, sua história, a não ser em último momento, sobretudo para dar mais garantias a sua família. Possa ser que em seu inconsciente quisesse conhecer outras terras. De toda forma, poderia fazer a travessia para a América, passar alguns anos e voltar. Assim, não deixou de ser cúmplice do seu braço de confiança, além de Giovanna. Procurou Nicodemos e com ele conversaram sobre a situação política e instável da Itália. Seu irmão lhe aconselhou a resistirem juntos e não deixar a pátria de Montefeltro. Discutiram por horas e muitos dias depois - as possibilidades. Guglielmo, depois da chegada do mensageiro, dizia a Nicodemos que eram muitas as oportunidades do outro lado do oceano, como a existência de grandes extensões de terras, e a falta de mão de obra para 'lavorar' em plantações de café, uma vez que detinham esse conhecimento de longa data, pelas gerações dos Stacciarinis. Mesmo assim contrariavam-se, ao sentido de que não deviam se separar do Casarão e toda a história de suas famílias, qualquer que fosse a situação e oportunidades. Todavia,em seu âmago, Guglielmo percebia que atravessar a Toscana e, alcançar o Porto de Gênova,
pudesse se tornar uma realidade. Não tinha como explicar esse sentimento.

Pensou então:
Partindo de San Leo, iria se preciso fosse, pelos caminhos mais alternativos até Pontassieve - lá chegando poderiam descansar uma noite ou tarde, ou mesmo algumas horas, já que se preocupava especialmente com Cirilo que tinha apenas um ano de idade. Depois não iria pelos caminhos convencionais, já que o estado de agitação na Itália era preocupante. Assim, conhecedor que era de matemática e geografia, analisou e viu como alternativa alcançar Firenze e o Rio Arno. Isso mesmo! Iria seguir pelo Rio Arno, margeando suas curvas até Pisa. Por isso era tão importante que descansassem em Pontassieve. Com os pés em Pisa, estaria mais tranquilo, isto pois, sabia que o caminho, então, até Gênova seria mais tumultuado e de certa forma, com o marchar de outros grupos de imigrantes estariam mais seguros. Preferia não pensar nesse termo - "Imigrantes".

Continuava a pensar:
- Giovanna aveva ragione ... essere un immigrato dalla nostra stessa storia, era tradire se stesso e la sua famiglia. Ma che cosa potrebbe fare ti rendi conto che la sua famiglia era in pericolo..... E 'stato richiesto anche pensare che in America potrebbe dare molto ai tuoi figli e nipoti. Poi, dopo, ritornare l'Itália. Questo Giovanna bisogno di capire.

Finalizava sua viagem imaginária pela Toscana, indo de Pisa - onde passariam um dia no máximo, se fosse preciso dois, então seguiriam para Gênova. Agora era preciso saber quais as datas de expedições pelos navios subsidiados pelo Governo italiano ou brasileiro para a América. Já era sabido que a maioria desses navios atracariam em San Paolo. De toda forma, ia dispor de alguns bens e reservar uma quantia em dinheiro, além de alguns objetos de valor para caso alguma permuta durante a passagem pela Toscana. Hoje ainda iria conversar seriamente com Giovanna.

Algumas semanas depois estavam a avistar a imagem da postagem.
Era Pontassieve. Giovanna ainda supunha que alguma coisa pudesse acontecer no decorrer da Toscana. Lembrou-se de Santa Lucia e a ela se apegou:
- Deus que seja o melhor para minha família e meu esposo amado. Mas, se puder, não nos deixe partir para o Brasile. Assim avistando melhor Pontassieve.

Notas:
Pontassieve leva o seu nome a partir da ponte que permitiu a conexão entre Firenze e a Valdisieve, entre Arezzo e Valdarno. Seu valor estratégico, convenceu a República Florentina a construir uma imponente fortaleza, o Castello di San Michele Arcangelo, que no final do XIV tornou-se o centro administrativo da região.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Cruzando a Toscana





Naquele por do sol, o Casarão Stacciarini, ficou silencioso e movimentado. As notícias que vinham da capital à sequência de tantos fatos históricos desde a queda de Roma, não eram das melhores. Giovanna pediu a ama que viagiasse os filhos e postou-se ao lado de Gugliemo - o tempo todo. O marido dizia que o deixasse, que precisava pensar melhor e conversar com os amigos e, enviou um mensageiro até Firenze para trazer notícias mais concretas.

Foi nesse por de sol - que se ouviu o tropel do cavalo: o mensageiro chegava.
A poeira esvoaçava na paisagem de Colina e as janelas do Casarão estavam fechadas.

Guglielmo adiantou-se na estrada de Colina e Giovanna corria em sua direção, silenciosa mas a dar tutela ao seu amado, não o deixaria só em nenhum instante sequer. Não queria saber, Giovanna era assim, metia-se nos assuntos dos homens quando o assunto era seu esposo amado. E, por ele foi capaz de tudo.

O mensageiro conversou, de forma séria e preocupada com Guglielmo.
Não menos séria era a expressão que se formava no semblante de Giovanna.
Entendia claramente que o Governo Italiano estava incentivando a imigração italiana, subsidiando passagens e a travessia para a América.

- Non, non'è verità!
Giovanna esquivava seus pensamentos para todas as direções, menos para esta. A imigração não estava nos seus planos.

Sendo acolhido o mensageiro, para providencial descanso da viagem, Guglielmo sentou-se no campo de girassóis no lado oeste do Casarão e ficou pensativo vendo a noite chegar.
Giovanna se aproximou dele, angustiada que estava.
Abraçou-o e ficou junto dele vendo a noite cair.

Em poucos dias iam iniciar a viagem pela Toscana, rumo ao porto de Gênova.
Melhor dizendo, rumo ao Brasile.
Nesse momento, Giovanna ainda pensava que seria capaz de não deixar que isso acontecesse.

Foi uma noite bela e ali ficaram por toda ela:
vendo as estrelas e sentido a brisa dos girassóis
Amando-se como nunca mais teriam a oportunidade de fazer em terras italianas, nos campos de Colina.

Giovanna adormeceu nos braços de Guglielmo.....
Isso não se sabe,
possa sim ter sido o contrário.
E assim ia ser até que a última estrela cadente pudesse descer do céu.
Em qualquer lugar em qualquer tempo em qualquer terra.

domingo, 16 de agosto de 2009

No porto de Gênova






O infinito era avistado no Porto de Gênova. O infinito de uma nova direção ou do que todas as direções podem possibilitar para quem imigra por necessidade e crença na ausência de oportunidades não oferecidas pelo seu país. A cruel partida de quem se vê diante das forças impostas pelas circunstâncias políticas e da guerra.

Era assim a visão do mar em Gênova. Apenas entreolhavam-se às vezes, num profundo silêncio. Velados os sentimentos de Giovanna e Guglielmo naqueles instantes que precediam o embarque ao Brasile.

Vagavam no seu profundo amor à pátria italiana, no amor de suas vidas e aos seus filhos, ainda pequenos italianinhos. Já, assim, impostos às mudanças do lado cruel da existência.
Sabiam da cumplicidade que sentiam ali, diante dos navios atracados, mas logo deveriam cumprir a decisão que haviam tomado.
Meu Deus! A decisão mais parecia uma sentença... era mesmo necessário cumprí-la?

Giovanna engolia silenciosa, o gosto jamais explicado daquele momento.
Guglielmo honrava da melhor maneira o papel a ser cumprido por um homem quando o destino foge ao seu controle, fortalecendo-se nas atitudes que deveriam ser tomadas. Só o mais bravo lutador sabia do peso de suas responsabilidades até ali.

As sete crianças ainda atônitas e temerosas eram sábias no profundo silêncio que também faziam.

A brisa do mar mediterrâneo musicava algum conforto querendo sonorar aos nossos bravos ancestrais que não havia do que se lamentar, nem deveriam, pois de alguma forma o caminho, mesmo imposto, era o caminho correto. Uma brisa suave e embebida no cheiro das correntes do mar, entregavam ao patriarca Guglielmo as forças de Netuno para conduzir sua família da melhor maneira possível até a terra Brasile.
Ele sabia que a viagem até a América não seria fácil. Tudo poderia acontecer. Falava-se em doenças nos navios, nas condições limitadas de provimentos, em lendas ou verdades, mas assustadoras. Sabia, Guglielmo, que não poderia oferecer medo a sua família, essa era a condição imposta a si mesmo.
Os filhos sempre estariam protegidos.
Por isso estavam ali no Porto de Gênova naquele instante.
Como o mais bravo guerreiro continha-se no amor pela sua bela Giovanna.

Ela não desviava o olhar fixo do infinito marítimo.
Não podia dizer nada, não conseguia sequer pensar. Se isso fizesse sabia correr o risco de passar a liderar a família de volta a San Leonardo e isso poderia não ser o melhor.

Esse mesmo infinito do Porto de Gênova, os fez silenciosos.

Até que ouviram um soar de sirene no porto....... Giovanna não queria se permitir às lágrimas... as crianças mais velhas adiantaram-se no ficar de pé. Os meninos seguiam a maestria do pai e queriam ajudar a mãe.
Angelo se adiantou e tomou Cirillo nos braços. Giuseppe puxou a mão de Eliseo. Rita reuniu as meninas, dando as mãos a Maria Gertrudes e a Florida.
Adiantaram-se na frente, como sabedores da velada e profunda insegurança da mãe e da difícil decisão do pai.
Tudo em profuso silêncio.
Guglielmo ficou mais atrás com Giovanna ainda sentada.

Ela quis sentir por mais um instante o cheiro da sua terra Itália!
Admirou a iniciativa dos seus filhos adiantando-se ao tiritar da sirene.
Dio Mio! - pensava se tinha mesmo que entrar naquele navio e curvar-se aos desígnios da natureza. Por que não podia se rebelar como era de sua alma italiana.
Guglielmo não sabia o que dizer e como interrompê-la de sua contemplação para a partida para o novo continente, esquivando-se também de suas próprias e comuns lembranças..... sua casa, seus familiares, suas histórias.
Guglielmo perdeu-se na absorção de tudo que haviam vivido até ali..... seus amigos, seus negócios, recordando-se de sua infância e de seus pais ensinando-o a trabalhar na terra. Estava longe....

De repente, Giovanna vendo a profunda absorção do marido e seus filhos organizadamente caminhando na direção do navio... postou-se de pé, ajeitou o longo vestido, atou o cabelo com uma faixa, e caminhou dando o braço a Guglielmo.

Ele respirou fundo.... por um instante havia se esquecido de onde estava...enxugou suas lágrimas..... agradecendo pela coragem de Giovanna.... ao risco de perderem o embarque....ergueu o corpo, apoiando o conforto do braço de sua amada, colocou seu chapéu e caminharam..... como se estivessem indo para uma valsa.

De costas, via-se o nobre casal de braços dados caminhando na direção dos sete filhos. E, ao fundo deles, a visão do navio, o Edilio Raggio e centenas de outros imigrantes já embarcando.

O infinito do Porto de Gênova perpetuou-se no olhar dessa família... até os dias de hoje.

Nota:

As fotos da postagem mostram o Porto a três anos atrás e foram registradas por um bisneto de Guglielmo e Giovanna.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Qual é o correto: Stacearini, Staciarini ou Stacciarini?


Nos documentos que vem desde os ascendentes - Guglielmo e Giovanna, vê-se variações do sobrenome 'Staciarini'.

As pesquisas iniciadas a mais de dez anos, relatam que todos os Stacciarinis do Brasil, vêm deste casal, que ora buscamos traduzir a saga.
Não houve registro de nenhum outro Stacciarini no Brasil, nem casado, nem solteiro (a).
As buscas foram realizadas no Museu do Imigrante em São Paulo, consulados e patronatos.

Na chegada do casal ao Brasil, era difícil a comunicação junto aos brasileiros.
O museu do imigrante expede o documento com o nome "Stacearine".
Mesmo o nome de um dos filhos do casal Eliseo - vê-se como TEVISEU. O que significa a dificuldade dos funcionários da Casa do Imigrante na transcrição correta de nomes e até mesmo datas.

Contudo, no registro para os netos dos filhos do casal Guglielmo e Giovanna, como mostra a certidão de casamento dos mesmos, a grafia correta é STACCIARINI.

Aos interessados, as correções só são feitas por meio jurídico. Teoricamente nada muda, a não ser que esteja interessado na cidadania italiana.
Ou quem sabe, no máximo, a numerologia pelo nome.

n o t a s :

a pronúncia correta em italiano do cognome Stacciarini é "Statiarini".
em italiano dois 'ces' se pronuncia 't' como em fiorucci, gucci, santucci, vanucci, petrucci, e outros mais. Isso para casos de duplo 'c' seguido de 'i' ou 'e'. Em outros casos duplo 'c' pode significar a pronúncia 'k': "Ghiaccio" (gelo), pronunciado "ghee yat cho" "guiako"; ou "vecchio" que significa velho e pronuncia vekio.

Em italiano, todas as consoantes exceto h podem ser duplicadas. Duplo consoantes (i consonanti doppie) são muito mais pronunciados do que vigorosamente único consoantes. Com dupla f, l, m, n, r, s, e v, o som é prolongado, com a dupla, b, c, d, g, p, e t, a parada é mais forte do que para a única consoante. Duplo z é pronunciada quase o mesmo como um único z. Duplo s é sempre mudo.

O italiano é um idioma 'musicado'.

Ma in Italia si parla molto: che ogni traduttore è sempre un traditore!Significa: Que na Itália se diz muito que um tradutor é sempre um traidor! Uma expressão recorrente!

É preciso compreender que a tradução sempre leva a perdas significativas à compreensão no contexto cultural e de real expressão. Indo para a Itália lembre-se disso, e mergulhe num mundo novo, numa nova forma de comunicação.
È molto bello.. parlare e ascoltare l'italiano...

= Até 1890 o casal da nossa história teve quatro filhos:
Angelo Stacciarini
Rita Stacciarini
José Stacciarini
Eliseo Stacciarini

= A partida/vinda para o Brasil foi no ano de 1896.

= O sobrenome de Giovanna se diz "Stakini", de Stacchini.

De Conquista e Jubaí, em Minas Gerais à Itália e o nascimento dos filhos


Corriam notícias da abolição da escravatura e o pequeno vilarejo de Jubaí era restrito a algumas dezenas de famílias e abundantes terras vermelhas, fertéis e ainda inexploradas. Eram amplas extensões de Cerrado, distribuídas entre três ou quatro fazendeiros mineiros. Falava-se que o governo ia mandar um intendente com mapas de regularização das enormes glebas ainda virgens à mão humana. Revoadas de tucanos e a preocupação dos fazendeiros era evidente em meados de 1890.

Ouviam notícias de novidades em Minas Gerais: a descoberta de um grande diamante em uma cachoeira do Rio Uberaba, e a construção de uma igreja por garimpeiros de ouro.
Em Desemboque o quadrado de casas já estava mais tranquilo... e as construções no Arraial da Farinha Podre eram outra manchete jornalística daquele tempo.

O Bandeirante Anhanguera estava em Goiás e dentro de seis luas ia voltar com resultados de suas conquistas no planalto central.
Sabia-se de muitos rios e ainda índios na porção norte de Goiás. Lutas e demarcação de terras continuavam. Muito ouro estava sendo buscado em outras regiões de Minas Gerais.

Os fazendeiros reuniam-se em sigilo e, corriam para atrasar a decisão da Princesa Isabel; mas era irrevogável a abolição, porém muitos negros ainda estavam em situação de transição à nova vida, continuando em senzalas de tradicionais fazendas de Minas Gerais.

Corria a boca pequena sobre a chegada dos imigrantes.
A cidade de Conquista e seus dirigentes reuniam montantes de dinheiro para pagamento das passsagens e fretamento de navios para buscar imigrantes.
Um carta foi expedida pelo regimento brasileiro diretamente ao Ministério Japonês, e com todo apoio do Governo do Brasil, foi autorizada a entrada de imigrantes japoneses. Alguns já haviam chegado até mesmo a Minas Gerais.
Os japoneses traziam incrementos para as culturas de Conquista e outras regiões de Minas Gerais. Soube-se entretanto, do estado de guerra na Itália e das evidentes recomendações sobre um novo perfil para a imigração. Especulava-se até mesmo sobre categorias laborais para nova abertura à imigração. Os mineiros queriam europeus.

Então, o Brasil passaria a incentivar novo alvo de imigração: os italianos.


Os arranjos em Minas Gerais se fortaleciam para a chegada do jovem casal, recém-casado no Comune de San Leo, então italianos.
Apenas ainda não sabiam desse destino.... os próprios protagonistas, Giovanna Stacchini e Guglielmo Stacciarini...

Giovanna já havia tido seu primeiro filho a exatos noves meses após o casamento e não tinha escolhido uma vida de senhora de filho do Conde: trabalhava em casa, fazia de tudo, havia aprendido a fazer todos os tipos de queijos, ordenhar, colher uvas, até mesmo prepará-las para a confecção de vinhos, costurava, experimentava receitas novas e ajudava em tudo que podia... além de ter tempo para o nascimento de um filho após outro.

Nesse mesmo tempo lá de Minas Gerais, Giovanna caminhava na Itália de San Leo, nas proximidades da entrada do Casarão, ao lado da Pequena Capela, na porteira... ainda amamentando, quando como já sabia reconhecer, e sequer pela regularidade das regras... que eram raridade, já que a maior parte dos últimos três anos havia estado ou grávida ou amamentando....
O pensamento da gravidez do novo filho foi espairecido com sons... e seu coração palpitou! Depois de José Deus ainda não havia abençoado a continuidade da família.

Ouviao tropel de cavalos... sabia que Guglielmo estava chegando - de uma viagem na entrega de um lotes de carneiros vendidos para um agricultor da Perugia.
O mau tempo e o frio retardaram a volta de Guglielmo em quase dois meses.

O que não era tão comum, ele apeando do cavalo com largo sorriso no rosto, e correndo na mira de sua amada Giovanna, que parada estava com a uma mão na cintura e outra na barriga. Ao redor dela, juntinhos, postaram-se Angelo, Rita e José.
Angelo segurava José fazendo grande esforço; o irmãozinho estava gordo e olhava atento o barulho e resfolegar dos animais, cansados da viagem. José debatia no abraço de Angelo querendo correr na direção do pai..
..

Rita teve tempo de resmungar: Mama, papa é qui!!!!!!

Olhava apaixonado como no primeiro dia e parecia ainda ontem que haviam se casado.
Possivelmente o sorriso deu-se pelo volume da barriga de Giovanna.... estava grávida novamente e sua família crescia... nada podia deixar Guglielmo mais feliz.


Era mesmo o tempo da gravidez do quarto filho do casal.

Do tempo deste abraço na porteira do Casarão...

De em Minas Gerais já se figurava o ano de 1890... Na Itália ainda era o tempo do nascimento de Eliseo Stacciarini, o quarto filho de Guglielmo e Giovanna.

O pequeno Eliseo nasceu em Maggio, conturbando ou esclarecendo nossa dimensão temporal da história. É mesmo verdade que o terceiro varão da família nascia no ano de 1889. A ordem cronológica dos nossos fatos são a partir de Eliseo.
Precisamente no dia 16 de Maio. A lua era nova e era primavera, campos floridos, folhas verdes nos gramados da Toscana e chuvas esporádicas....
Mas na madrugada do nascimento, fazia lua no céu, e o parto foi tranquilo, visto que Eliseo não era tão graúdo.

O choro acordou Angelo... que pensou: - será meu irmão?
Torcia para que fosse um irmão.... já tinha Rita que era calma e contemplativa.
Adorava José, e com um novo irmão iam poder praticar calccio!
Um calcciatore! matutava Angelo.
Não pôde esperar o dia amanhecer... levantou-se para espiar atrás das portas do Casarão o que é que diziam as parteiras.

N o t a s:


O casamento de Giovanna Stacchini e Guglielmo Stacciarini aconteceu em Setembro de 1886.
Eliseo nasce no ano de 1889.
Cruzando estas informações com o desembarque no Porto de Santos, ve-se que o casal teve os filhos na ordem:
Angelo, Rita, José e Eliseo.
No ano de 1896 tinham respectivamente 12, 11, 10 e 7.
Se Eliseo nasce em 1889, possivelmente seja o contrário ele com 10 e José com 7.

Só o documento do nascimento de José poderá dizer quem Angelo segurava naquele dia da chegada de Guglielmo a cavalo da Perugia. E quem estava no ventre de Giovanna.

Uma outra hipótese poderá ser levantada ao longo da história.
Para essa argumentação tem-se de posse o registro do nascimento de Eliseo Stacciarini, obtido no Comune de San Leo e referencial para os fatos
.

* A linda imagem da postagem está hoje assim sobre o altar da capela na entrada do Casarão Stacciarini. Na postagem anterior, vê-se a imagem externa da Capela.
Era olhando para essa visão da foto que Giovanna rezava quase sempre com uma das mãos na barriga. Tornou-se fervorosa apoóstola e aos sábados a tarde vinha com um terço nas mãos, e aos domingos também.
A Capela foi construída mesmo antes do final da construção do Casarão...
Os afrescos são de algum pintor de Rímini. O Conde respeitava a arte e sempre buscava professores para aulas a seus filhos.

Guglielmo escrevia bem e era exímino matemático, bom negociante, tornou-se conhecido produtor de matrizes caprinas na região da Toscana. Aprendeu também sobre o cultivo de café, o que ensinaria mais tarde a Angelo, Eliseo e Cirilo.


Hoje, os gestores do Casarão falam em restauro. É uma Capela bem pequena, mas linda!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

" Il Matrimonio "











As fotos da postagem mostram a original certidão de casamento do jovem casal Guglielmo e Giovanna; depois um detalhe da Igreja em San Leonardo, onde se casaram e o caminho de entrada na cidade de San Leo, por onde passariam noivos, famílias e convidados. Outras imagens, o caminho percorrido pelos noivos indo para o Casarão Stacciarini, a paisagem, e onde morararia nosso idolatrado casal ancestral..... até a vinda definitiva para o Brasil.
Imagens que permaneceram no imáginario de Guglielmo - sempre, e, também, nas lembranças e recordações de Giovanna.

Angelo, o filho mais velho do casal, bem mais tarde, sempre perguntava ao pai quando voltariam a ver Colina....
- Un giorno figlio mio, noi siamo a ritornare in nostra casa na Itália! Sì, noi siamo andare circa de Colina e di San Leo, ma qui in Brasile anche nostra casa, vá bene? dizia Guglielmo a Angelo....
Guglielmo pensava calado: Dio mio, che cosa é nostro Casarão in questo giorno? Come stai? Dio mio.....
(Nesse tempo... Angelo já era moço feito e logo se casaria com uma, também imigrante.
Como o filho mais velho, sério e responsável, tinha saído ao pai.
E por isso, dos sete filhos vindos da Itália, ele era o que mais se recordava de tudo e sabia bem que sua vontade de voltar a Itália não dependia apenas dos seus pais. Ele mesmo já havia se encantado com o Brasil.)

Mas ainda era o dia do casamento......Il Matrimonio

A manhã de Giovanna foi curta já que o casamento estava marcado pela meia hora do dia.... desde o café, Giovanna, vistas a sua vida nova....era anciosa....
A viagem para o casamento devia se começar, pois deviam rumar até a Catedral de San Leonardo.
Começavam os preparativos para a ida ao casamento: saia de San Marino toda a família Stacchini. O vestido, Giovanna só usaria na chegada a San Leo. Pertences, presentes e outras coisas seguiam com a família.
Da Igreja todos levariam Giovanna já casada para sua nova casa, em Colina.

Fazia a belissima manhã de 12 de Setembro de 1886.
Faziam quase exatos quatro anos de namoro e noivado....
Giovanna tinha 21 anos e Guglielmo completado os 28.

Marchavam amigos e uma comitiva de San Marino.... sequer viram chegar em San Leo e...

Até o ouvir do padre....

Signore Guglielmo Stacciarini
È il loro libero arbitrio che accetta come sua legittima moglie, a Signora Giovanna Stacchini, la sua promessa di amore e rispetto la sua fino all'ultimo giorno della sua vita?

Guglielmo enche o peito e aclama: - Sì

Signora Giovanna Stacchini
È il loro libero arbitrio che accetta come suo legittimo sposo, o Signore Guglielmo Stacciarini, la sua promessa di amore e rispetto la sua fino all'ultimo giorno della sua vita?

Giovanna sorri: - Sí acetto.


Olham-se, ela com olhos cheios de lágrimas, ele completamente tomado de amor por ter logo sua carissima no calor do seus braços.
A nona e a mãe de Giovanna também eram só choro e soluços.
Seu pai disfarçava mas com o lenço enxugando a testa, limpou os olhos e ajeitou os bigodes.
A família Stacchini, tão contente e alegre ensaiou um grande aplauso para os noivos e, todos de pé, ouviam sinos e o órgão da Igreja tocado pelo jovem amigo Paolo Bevilacqua. A marcha nupcial lindamente orquestrada levava o jovem casal, agora marido e mulher, para a saída da Catedral.
As amigas de Giovanna e amigos, esperavam na porta com um laço de fita atravessado pelo caminho... os noivos agora casados deveriam romper as fitas e seguir para a nova vida..... as meninas menores não deixavam de tocar o vestido de Giovanna, sinal de 'auguri' (sorte).... para quando fossem moças encontrar um bom marido.
Os costumes italianos todos cumpridos... e aquela manhã de Setembro marcava o começo da grande família que formaria, especialmente esse casal.

Frutificariam centenas de novos Stacciarinis......um só casal, este - Giovanna e Guglielmo.... mas numa terra distante dali.
Seus filhos, dariam continuidade a história da Itália e do Brasil.
Alguns desses Stacciarinis, hoje, correm os olhos por estas linhas, numa energia cetenária, secular.... para redesenhar a nossa própria história e de alguma forma agradecer, numa prece particular, a cada um, que nunca estivemos sós...
Nesse dia de Setembro, nonos e nonas de duas particulares famílias de San Marino rezavam juntas para que seus filhos fossem muito, muito felizes.
E foram....
Como nós seremos e estamos sendo....
Porque a coragem de um casal que larga seu país, sua casa, suas vidas e parte com sete crianças, sendo um de colo: Cirilo com apenas um ano de idade... para uma terra desconhecida, com praticamente a roupa que vestiam, além da sua enorme inteligência e vontade de trabalhar dia a dia;
E vence nessa terra distante, adquire bens, patrimônio,e... não se esquece de festejar, continuam alegres, fazer inúmeros amigos, tornam-se cafeeiros, fazendeiros, e hoje, onde estejam... sabem da prole riquissíma que constituíram: centenas de netos, bisnetos, e filhos destes...... e filhos dos filhos.... numa árvore genealógica iniciada por Elisa e Alessandra e Lucia e...netas de netos de Giovanna - hoje no Brasil.

Sí, "Siamo tutti Stacciarini"... Siamo felici e siamo uma raça forte e guerreira. Porque não são os ventos do oceano que fizeram abalar nossos avós, não serão os ventos desse novo tempo que nos farão...
Eles, Giovanna e Guglielmo, já vinham preparando a nossa chegada ao Brasil, muito, muito tempo antes de hoje....
Nesta referida manhã de Setembro de 1886.....
Em San Leonardo.... casavam-se..... e nós nascíamos!!!!
Estavámos, neste dia de Setembro, no ventre do Universo.

O casamento foi realizado na Cattedrale di San Leone, uma bela construção do século XXII, com todas as regalias de um casamento do filho do Conde Stacciarini com a tradicional e rica família Stacchini de San Marino.

Saíam da Igreja, nesse momento, uma Giovanna sorridente, por dentro a gritar, berrar de alegria.... e um Guglielmo menos sisudo, segurando firme na mão da sua amada, protegendo-a, como faria até o último suspiro de sua vida. Não largaria mais essa mão, tão doce e, desciam assim, as escadas de San Leo......

À saída da Igreja, as mulheres de San Leo, forraram o caminho dos noivos até o patio da festa, com ricos tecidos, por onde, em um corredor de convidados... e recebiam mãos de todos os lados.....

Seria servido um almoço no pátio da Catedral, na Piazza Dante Alighieri, de lá a festa continuaria no Casarão Stacciarini, agora a nova residência de Giovanna.

O almoço do casamento foi organizado pela família Stacchini e um rico cardápio foi degustado:
Como era costume diário carnes e queijos da cozinha local, a mãe de Giovanna preferiu variar mandando buscar pescados frescos em Rímini...
Il primo piatto foram 'Tortellonis recheados com ervas ao molho de queijos' (pecorino e parmesão)
Il segundo piatto foi 'Maccheronci con le sarde' e para convidados que não comiam peixe, foi servido 'Scottiglia di Cinghiale'
Il terzo piatto: uma refrescante 'Panzanella'
A sobremesa um belo 'Tiramisù'... havia também Panforte e Cantucci... Ricciarelli e licor de vino santo.
Seguido de fresco café.
Durante todo o almoço se pode apreciar belos vinhos... no início un Verdicchio e Orvieto, dopo un nobile Vinho Montepulciano.
Crostinis foram servidos fora da Igreja desde antes do início do casamento e doses de Orvieto para os italianos mais velhos, também, nascos de fortes queijos montanheses feitos na própria casa de Giovanna (queijos com ervas, codimentados e curtidos com técnicas toscanas).

Muitos convidados....... falantes, e muitas amigas de Giovanna, SanMarinenses, sorriam e olhavam para os tímidos rapazes de San Leo.... as matriacas competiam em suas guloseimas, já que o almoço em San Leo era só o começo dos quitudes. Todos estavam felizes.... e agora haveria cantoria até lá pelas quatro da tarde quando rumariam para o Casarão...e a festa prevista para terminar no dia seguinte, seguiria até la Lunedì (segunda-feira).

Notas:
Maccheronci con le sarde = clássico prato do sul da Itália, leva sardinha, erva doce, uva, pinhão, farinha de rosca e açafrão.
Panzanella = salada feita com tomates, cebola e alho, e pão embebido em azeite e temperado com manjericão fresco.
Scottiglia di Chinghiale = preparado com carne de Javali, prato especial do sul da Toscana.
Tortelloni = versão ampliada dos Tortellini, massa recheada com carne, queijo, ervas.
Panforte = bolo compacto salpicado com canela e cravo da índia
Ricciareli = preparados com amêndoas moídas, casca de laranja e mel.
Cantucci = biscoitos toscanos geralmente servidos com vin santo, um típico vinho licoroso.
Crostini = entradas feitas com pães, torradas, cobertas com creme de anchovas, azeitonas, fígados e tomates. E azeite de oliva.
Vino Nobile de Montepulciano = feito com mesmas uvas do Chianti (uva Sangiovenese, típica da Toscana), vindo da aldeia de Montepulciano. Trazidos pelo irmão de Giovanna, que pessoalmente inspecionou a safra dos tonéis.
Verdicchio = vinho branco seco da Marche com sabor forte. Enviados pelos amigos do pai de Giovanna.
Orvieto = branco e mais doce, conhecido como Abbocato.

Foram inúmeros os presentes do casal. Incluia: Prendas caseiras feitos pelos moradores de San Leo, todos mandaram presentes e estavam na grande festa; até ricos regalos de San Marino (movéis, bordados, prataria, e pedaços de ouro); também, Carneiros e matrizes; galinhas; porcos; novilhos; e até uma carroça nova, enviada pelo amigo do Conde, o Duque de Montefeltro. Tecidos e perfumes, quadros e uma família de trabalhadores de San Leo, até mesmo ofereceram sua filha para ser dama pessoal de Giovanna e ajudar a cuidar dos seus futuros filhos.

Rememorando: À saída da Igreja, as mulheres de San Leo, forraram o caminho dos noivos até o patio da festa, com ricos tecidos brancos, por onde, em um corredor de convidados, eram aplaudidos ao mesmo tempo que recebiam mãos de todos os lados, naquele jeito espontâneo do povo da Itália....e, sempre com as meninas pequenas se espremendo no meio dos adultos para chegar até a beira do tapete de tecidos, e assim tocar levemente no vestido de Giovanna... que dizia elegantemente a todos:
- Grazie! Grazie! Grazie tutti!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O dia em que se casaram




O som veio devagar e de repente um súbito se fez. O galo cantou e Giovanna saltou na cama: em pensamento: - Dio mio! assutou-se pensando ter perdido a hora. E se deu conta de que o dia vinha chegando, mais ainda não havia amanhecido. Devia ser por volta de cinco da manhã.

Com os olhos embebidos de emoção lembrou-se.... hoje é o dia que me caso com meu amado. Auguri, fortuna, felicità.... nisso pensava.
Os olhos de Gulgielmo tornaram-se nítidos em sua mente e não acreditava que ia ser 'sposata'.

Levantou-se, não podia estar mais na cama, queria ver o dia do seu casamento nascer e dirigiu-se para a varanda.
Em San Marino, fazia calor, como se parla em italiano 'è caldo!'
Tudo estava preparado, hoje mudaria-se para San Leo e deixaria sua família em San Marino - de alguma forma para sempre!

Na noite anterior lembrava-se dos conselhos da mãe sobre o que significa o casamento, a importância da primeira noite.... e tudo isso fragmentava-se, pois sua personalidade era forte demais para seguir conselhos, queria sim, beijar seu amado Guglielmo para sempre e sentir seu abraço e seu cheiro e nada mais. Nem família, nem conselhos, queria apenas viver seu amor. Desde o dia em que o havia descoberto.

Ouvia barulhos vindos da cozinha, devia ser o preparo da primeira refeição - prima colazione.

Estava descalça e logo os primeiros passantes iam se ver à rua.
Queria gritar.... de felicidade, felicitá, felicitá.... só isso sentia.
Precisava falar, envolver-se nos fatos da sua própria história.
Isso era um pouco da Giovanna: falante, tagarela, risonha, engraçada, espirituosa... Não fosse tamanha a seriedade de Guglielmo, para se apaixonar perdidamente pela sua Giovanna. E ela por tanto mistério, neste homem que em silêncio a conquistou deliberadamente.........

Por um instante ela se lembrou do primeiro dia que viu Guglielmo - como seu amado.

"Era Dezembro e toda a família Stacchini preparava-se para subir às torres. Hoje haveria missa na "prima terça" - primeira torre.
Giovanna arrumou-se em um vestido de gala, como não tinha uma data para usar, o natal era sempre uma oportunidade.
Seu pai haiva trazido os tecidos de uma viagem a Firenze. O pai de Giovanna era um comerciante de San Marino e entre os filhos tinha um apreço especial por Giovanna.
Talvez pela sua personalidade.
Talvez por sua felicidade gratuita.

Assim rumaram para a torre.
Toda a família Stacchini.
Além do exagerado vestido pérola, e dos cabelos em cachos, Giovanna usava meias brancas e sapatos novos também.
Forrou o assoalho da carroça e foi a primeira a sentar-se para ir a missa de natal.
Tinha 17 anos e ainda não pensava em namorar, sabia que isto existia, já tinha ido a casamentos e até visto algumas peripécias dos primos e primas.
Mas vivia em um mundo paralelo.
Ainda, nunca havia beijado sequer.
Apenas sabia do interesse do filho Conde por ser seu esposo.


A missa foi imensa.... Giovanna por alguns momentos pensou que o sermão não acabasse mais.
Afinal 'dopo' havia festa no patio de acesso ás torres.
San Marino era toda festa neste natal.
Bandeiras e uma farta mesa como toalhas brancas.
Um cheiro de Pantucci... e de manjericão,espalhava-se pela atmosfera.
Não era como os outros natais, havia algo de diferente, mas Giovanna não sabia explicar o que era.
Apenas que queria desfilar sua bela juventude de 17 anos......


Sua avó lhe disse ainda: Figlia mia, come tu´é bela!Giovanna sorriu sua exagerada distância entre os dois dentes da frente.
Um sorriso lindo de fazer covinhas, e disse a sua nona: te voglio tanto bene nona!
Emendando a nona retrucou: - Guglielmo ti chiederà in matrimonio (ele te pedirá em casamento)
!
Giovanna virou-se assustada em direção a sua nona......
Um olhar espantado - não que não soubesse da vontade de Guglielmo. Mas isso ainda era uma expectativa, não pensava em se casar. O filho do Conde era seu amigo e protetor que encontrava todos os sábados na feira e 'domenica' na missa.
Sua nona sorriu......
Entreabrindo os lábios quis dizer algo mais.
Mas o silêncio da avó e a cunplicidade feminina das velhas sábias, de imeditato amadureceram os pensamentos da bela Giovanna.

Ali, naquele instante, olhando a predição silenciosa de sua avó, Giovanna apreendeu que sim, que sua vida de fato estava ligada a alma de um Stacciarini.

Arrepiou-se.

Olhou para o nada e novamente para a avó, com olhos e lágrimas que começavam a nascer.
Não sabia se estava feliz, mas hesitou que ia se casar com um dos filhos do Conde Stacciarini, como já supunha que seu pai tanto queria.

Mas mais que isso, dentro de si, Giovanna assumiu a possibilidade do amor. Do que talvez fosse o amor.
Pensou ainda, sentindo o desfalecer das pernas, e uma pontada no peito. Sinos tocavam de verdade ou no seu imaginário. Um calor inexplicável fazia.
Fato que por vezes sequer pensamos. O amor tem razões que a própria razão desconhece.
Sim, será que estava apaixonada?
Isso era o amor?

Sua avó acenou, franzindo a testa e as sombracelhas....

Ela virou-se e seus olhos encontraram os olhos de Guglielmo, de chapéu , bigodes e barba tão bem feita, olhos profundamente azuis, cor de céu em dia de primavera: ficaram ali parados olhando um para o outro, por um tempo incalculável. Ela não conseguia dizer nada. Ele preferiu não dizer nada.

No silêncio da noite em San Marino.................
Giovanna inexplicavelmente acaba, assim, ali, por descobrir o amor.


Naquele olhar Gulglielmo também sentiu o destino do amor de Giovanna.

Sim! Estavam casados, ali..... naquele instante. Para sempre!

N o t a :
O amor assim, pode ser que realmente nasça, do desconhecido sentimento de convivência, de fortuitos encontros, para de fato ser algo diferente, inexplicável.
As famílias Stacciarini e Stacchini era vizinhas de cidades por 8 Km, isso no tempo remoto de 1865. É claro que Giovanna e Guglielmo se conheciam, encontraram-se por muitas vezes. E famílias também interferiam nessas relações. Hoje ainda pode acontecer. O fato é que em algum momento eles realmente se apaixonaram, especialmente ela, traduzida pelos fatos, em uma mulher muito corajosa. Mulheres assim só amam uma vez. E também fortuitamente, talvez seja essa a melhor explicação para se descobrir o amor... um dia esquecidos de tudo, ele naturalmente brota em nossas almas, no lapso delineado de algum olhar. Quando isso acontece, a dádiva maior do Universo conspira, escolhendo alguns poucos, em qualquer tempo, para a emoção do desejo mais cobiçado entre os homens: viver um grande amor. Ou melhor seria, viver o pessoal e intranferível grande amor.

Giovanna via Guglielmo todos os sábados na feira em San Marino, e aos domingos na missa da manhã. Guglielmo era mais sisudo, sério, e Giovanna uma menina sorridente e distraída. Ele sempre querendo protegê-la e galetendo-a para 'desposá-la'. Isso - a ingenuidade, ele mais apreciava na jovem moça. Ali naquele natal ainda eram só jovens... cheios de sonhos. Mas foi naquele olhar, também, que se traçou o futuro do amor dos dois jovens italianos... o tempo os levaria para longe da Itália.... ...Giovanna, ainda, sequer pensava que a beleza deste natal, em quando descobriu o eterno olhar apaixonado de Guglielmo, seria lembranda até o final da sua vida.... de frente às olarias do Bairro das Alagoas, em Minas Gerais, Brasil. Já com cabelos longos em tranças.... brancos.... o olhar triste no vazio das Alagoas, sentia o vento e a poeira amarela invadir sua alma, era somente a busca pelo mesmo olhar de seu amado nesta noite de natal em San Marino. Olhando os cortadores de tijolos, trêmulos ao longe, o calor - ali sozinha, voltou-se para sua Itália: Nunca havia esquecido San Marino.

Fotos da postagem:
1 - Entrada de San Marino (hoje)
2 - Caminho percorrido por Giovanna e Guglielmo neste natal e por tantas vezes
3 - Vista de San Marino - terra da famiglia Stacchini

quarta-feira, 8 de julho de 2009

T O S C A N A - o caminho percorrido pelo jovem casal Stacciarini em sua vinda para o Brasil





As imagens ajudam a explicar as referências do caminho percorrido pelo casal Giovanna E Guglielmo com seus sete filhos, saindo de San Leo em direção ao Brasil.

Cruzaram a toscana. Uma região especialmente bela. Possivelmente a região mais bela da Itália. Pode-se perceber o roteiro pelas indicações a partir da cidade de San Marino (vicino a San Leo). Partiram, naquela época, por terra, com crianças, assim sendo em transporte de tração animal, com as coisas que conseguiram reunir, às vésperas da decisão em vir para o Brasil.

Passsaram nas imediações de Firenze, indo até Lucca e então até Carrara, para assim adentrar a Liguria, e chegando a Gênova e alcançar o porto.
Não sabiam se conseguiriam embarcar de imediato, as notícias que corriam diziam do incentivo para a chegada dos imigrantes no Brasile, e toda assistência da hospedagem ao trabalho. Também se falava de incentivos às passagens, que eram gratuitas e que o Brasile urgia por trabalhadores no campo, especialmente nas culturas de café.

Em cada quilômetro da viagem, o jovem casal, permitia-se aos pensamentos da decisão tomada, mas isto já era um fato e agora estavam a caminho de uma nova vida em um novo lugar.

Giovanna apenas se permitiu derramar lágrimas no momento da decisão, agora olhava para frente, não podia se permitir algum tipo de medo ou arrependimento, a decisão estava tomada e olhava para seus filhos, pensando sobretudo neles, que iriam viver suas vidas em uma nova terra. Como seria Brasile?
Entrecortava os pensamentos com o saculejar da carruagem e fixava-se a contemplar os campos da toscana, tentando registrar os cheiros, as imagens de sua terra, pois sim, sabia, que não tinha data para voltar, se é que algum dia voltaria.

Guglielmo pensativo e calado, bradava coragem, arreando forças para fazer a viagem no tempo mais curto possível. Quanto antes chegassem ao porto de Gênova menos riscos corriam seus filhos. A situação na Itália era tensa e rebeldes circulavam por toda parte, cidades e campos.
Muitos foragiam-se nas fazendas e a luta era mesmo por sobrevivência.

Num instante de concentração da viagem, Guglielmo, avistando um grupo maior de pessoas, percebe que estão armados, e avisa a Giovanna..........
Isto ainda a umas quatro léguas de Firenze. Já haviam saído da região que circunda a terra dos Montefeltro........

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Enquanto isso: Minas Gerais, antes do século XX

Enquanto na Itália desenvolviam-se fatos e fotos, aqui no Brasil, especialmente em dois pontos do universo geográfico, também se faziam sucessivas mesclas de amor e descoberta.

Pontos do relevo, espacializados sobre a 'geografia do inconsciente', e virtuosos pela bela natureza e riquezas do 'ocaso'.

Lá pela década de 1850, pontualmente no ano de 1858, começa a ser erguida a Capela, que ia receber o nome de Garimpo das Alagoas. Tudo por causa da descoberta de um imenso diamante nas proximidades de um Rio de águas muito cristalinas, caudaloso e sustentado sobre uma formação de basalto.

Corria notícias da desoberta de diamantes nesta região e falava-se também em ouro e o ideário de prosperidade atraiu ouvintes, sedentos de riqueza.
Essa tendência levava a fixação dos primeiros habitantes, recorrente a um processo de invasão de garimpeiros.

O vilarejo eleito por garimpeiros "Garimpo das Alagoas" foi elevado à condição de freguesia em 21 de outubro de 1878.

(Ainda faltava algum tempo para 1896, partindo-se da Itália)

Ao mesmo tempo a uns quase 200 km dali vislumbrava-se outra rica beleza natural, entrecortada por alguns montes e vasta floresta de cerrado.

O caminho desbravado pelos bandeirantes ia deixando marcas, notícias e adensamentos de população. Eram as primeiras bases para as cidades que viriam a se constituir.

O segundo ponto geográfico, transcrito pela leitura espacial, estaria localizado antes do Garimpo das Alagoas, pela oportunidade terrestre de quem um dia, sequer soubesse, mas viesse no sentindo imposto pela chegada ao Brasil, pelas águas contíguas do continente Europeu.

Possivelmente, o destino de todos os imigrantes constituídos da família de Guglielmo e Giovanna, se abarcaria nas "Alagoas"; talvez algum deles pudesse ser traído pelo calor brasileiro, mesmo que aos rumores dos ventos, tivesse querido ir mais adiante.
Existem ventos que nos levam aonde devemos ir.

"Isso de querer ser exatamente o que a gente é, ainda vai nos levar além."
(R. Freire)

As coisas do 'ocaso' nem sempre são tão definidas (assim).

Os dois pontos geográficos são hoje: Jubaí (Conquista) e Conceição das Alagoas, ambos em Minas Gerais.

Mas em 1850 - tudo era pura beleza da obra divina - e menos contrangimento da paisagem, hoje, pouco cênica.

Essas terras, ainda contam e, continuarão contando sua (s) própria história (s).

Outros personagens, imersos no dinamismo da natureza (ciclíca ou não) começam a se movimentar em direções similares ao caminho 'escolhido' por Giovanna e Guglielmo.
Os movimentos das marés, os ciclos da lua, o trânsito do sol, configuram-se numa dimensão espectro-espacial-temporal.
As forças naturais se inspiram para a reunião de conjunturas e ligações, entre política e inércia, às fixações, que tarde, algum tempo mais tarde, se formariam num emaranhado arranjo sentimental.
Os novos personagens que compõem a saga do casal Stacchini Stacciarini, confluem em tantas outras famílias e acontecimentos.
Certamente, não tenham dúvida disso, sempre ao envolvimento de relações muito fortes, intensas, à curiosidade brasileira pelo novo povo, e de outra forma, pelo olhar italiano, de ter gostado de misturar as raças, espécies, destinos e cumplicidades...

"Mesmo sob a advertência do casal-mater" - muito italianos! Isso entenderemos depois: mas ao casar um filho, a nora (mulher do filho), mesmo italiana, passava a viver com a família. Os italianos são assim, não saem de casa, aumentam a casa.

Mas, ainda é cedo! "Somos tão jovens e temos todo o tempo do mundo" (...) Agora, seus corações palpitavam "em súbito" na Itália, crianças ou pretensos a existência, como se poderá documentalmente perceber no entendimento do acervo documental.

No trânsito deste período, o que se pode constatar são outras ligações terrestres, vindas do Rio de Janeiro, permeando a cidade de Paracatu-MG.
Além das ocupações nas "Alagoas".
O ponto geodésico datum 69.
As estradas se abrindo no Jaracatiá e nas redondezas de Santo Inácio.
Ou seja, a ligação determinada, que a apoteose história, teria como palco uma faixa do Estado de Minas Gerais.
Lobos, tucanos, mulatas, ouriços, tatus, tamanduás, raposas...
Ipês, muricis, 'gabirobas' (...) e uma terra rica, intacta, esperavam os italianos.

Natural e possivelmente, "as histórias" sejam mesmo essas e assim! Mas sobre os locais onde se derivam as escolhas, isso, faz-se crente, não podemos entender. Talvez o desejo inócuo da permanência, outrora o desejo ávido do movimento.

As escolhas hoje, porém, não sofrem a imposição do Estado de Guerra, ou de despatriamento forçado.
Mas quando alguma coisa não previsível acontece, postamos ao estado de contrariedade. Mal, ou negando-se, ao entendimento do passado: muito da nossa existência dá-se pelo grato resultado da inflexibilidade de caminhos que não foram escolhidos pela liberdade, mas pela imposição e sobreposição de fatos.
Assim nascemos.

'Descartado' o autoconhecimento, impulsionamos outras naturezas internas, que indubitavelmente, terminam (na) (cedo ou tarde) em nós mesmos, ou nesse estado de existência, compreendido ou não, à tendência suplementar: - a do que necessariamente não somos.

Uma pausa de futuro

Saltando deste tempo, a matriarca Giovanna, já em "Alagoas de Minas Gerais" se abstraia do sentimento dessa família em terras brasileiras. Mas sentia-se silenciosamente só, admirando ao seu redor o estardalhaço exagerado de filhos, netos, bisnetos... não podia negar que eram também italianos. Mas a Itália era agora uma terra impossível. Esquecida. Mas, em nenhum um momento sequer, olhou para os novos compatriotas, sem alguma retiscência, nem boa nem má, mas a admirar como era possível existir mundos tão diferentes numa só terra!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Na Itália de San Leo, 38 anos antes de 1896



Nos arredores do Ca' di Stacciarini, inúmeras são as lembranças do tantos acontecimentos e entrelaçamento de fatos. Esse telhado sustenta a proteção de uma história que remete à própria história da Itália e da infinita coragem que impulsionou Giovanna e Guglielmo a trazerem a continuidade da vida para terras brasileiras. Onde novos e distintos entrelaçamentos iriam ser acontecidos.

Foi aqui, nessas imediações, que em 1858 chega a Itália um bebê, nascido forte e 'machio' como se 'parla' em italiano, enchendo de felicidade o lar da família Stacciarini. Um parto tranquilo para uma criança tão graúda e forte, que chorava como se cantasse o hino da Itália.

No salão principal, os homens da família brindavam com vinho produzido a partir de uvas colhidas e fermentadas na própria fazenda.
Eram tempos mais tranquilos, após a conturbada tentativa de proteger Garibaldi e Anita.

A mãe após o parto, estava bem e como as italianas, um parto era apenas uma momento de 'felicitá'. As italianas não se intimidam com essas dores ou expectativas, ao contrário, são fortes demais, aprenderam isso com seus próprios homens. Além disso a parteira era uma antiga agregada, senhora de anos, e tida como da própria família, além de já ter feito mais de uma centena de partos.

O pai, sorria, gargalhava, e 'parlava' como vencedor de uma batalha. Um pouco ao efeito do vinho, também pouco importante para o êxtase de quem deleita o prazer de ter mais um filho. Não sabia porém, este pai, que seu filho não seria um simples italiano, que nasceria e morreria andando pelos quintais da fazenda. Para o pai, seu filho possivelmente, seria um político, um revolucionário, mas sem dúvida cuidaria da continuidade de sua geração, aqui em San Leo - seria um 'grande italiano'. San Leo teria mais um soldado para sua fortaleza. E netos, bisnetos, e tantas gerações continuariam zelando pelas passagens dos nomes, tão importante aos italianos naquela época.

Parte do desejo do pai, sim, se realizou, mas ele jamais poderia pensar que seu filho, aquele bebê, algum dia deixaria sua pátria, isso não teria sua aprovação, mesmo porque para sua história, tradição e amor a San Leo; estar ali era o presente maior que dava ao filho - seu nome, seu gên... seu lugar!

Quando o bebê parou de chorar depois de algum tempo, quase hora, e adormecido em seu primeiro sono em San Leo, todos puderam se acalmar e quitudes foram servidos a todos que estavam em casa.

Degustaram-se fortes queijos montanheses, misturados a especiarias e temperos típicos do paladar da família. Pães foram molhados no vinho e mais tarde, já pela hora do almoço, degustaram cordeiro e um pouco mais vinho. Já que o parto tinha acontecido logo na primeira hora da manhã.

Um caldo forte foi servido a mãe (que não se contentou, tinha tanta fome que comeu o que quis, e o quanto quis).

Que então percebe adentar em seu leito, recebendo um beijo terno do marido.
Entreolhando-se, ela sente a felicidade do esposo, e, sente um vento repentino de alguma das janelas.

Um presságio? (Os italiando não têm tempo para isso).

O marido lhe admira e pergunta:
- Come la mia moglie é forte... Voglio chiudere la finestra?Começando a se levantar em direção a janela para reter o vento que atravessava...
Então é interrompido pelo aperto da mão de sua mulher no braço:
- Non mio marito, è caldo qui....... continua qui, bisogno da te.

O marido olhou fixamente a ela, como se quisesse dizer algo mais.
Continuaram assim, se olhando, se namorando, com a mesma sensação dos amantes eternos, e a mesma impotência do homens que admiram suas amadas, cheirando-as e entendendo toda a graça do universo, externada ali, pela dádiva da vida, pelo 'parimento'.

Olham-se como se não houvesse tempo.

Ela sente o cheiro do vinho no marido e imagina sua ansiedade durante o parto. Pensando em sorrir, conhecedora do exagero do amado.

Olha para o bêbe e olham-se juntos..... numa linguagem telepática. Natural aos italianos, que falam demais, e muitas vezes o que mais importa fica por dizer.
Os italianos são um povo bastante ímpar, e entre suas tribos se entendem bem, gritam, reclamam, mas se amam.

Mas o olhar entre eles e o bêbe, era como se fosse de uma prece.
"Pois mesmo, que esse bêbe, talvez um dia precisasse desta prece".

O marido esperava o que ela queria dizer. Conhecia a esposa.

Até que ela, sentindo novamente o vento, olhou fixamente para o marido e disse:

- Guglielmo!
Entendendo, ele enche os olhos de lágrimas e lhe beija novamente:

- Questo è il nome di nostro figlio?
- - ela diz.
- Ma che belissimo nome!

Agora olham para Guglielmo, que ainda gozava do seu primeiro sono na Itália, fora do ventre de sua mãe.

Continuava ventando... e as janelas faziam ruídos que se misturavam ao tempo e ao espaço.

Sim, havia nascido Guglielmo Stacciarini, que seria registrado em San Leo, na primeira oportunidade que o pai fosse ao Comune.

Notas: A foto da postagem é verdadeira, atualmente este é o telhado da Ca' di Stacciarini, conhecida como Ca'del Santo, localizada em Colina, Comune de San Leo.
O telhado se degrada em níveis, e ainda não sofreu nenhum restauro significativo, mantendo-se fiel 'cúmplice' da história.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ca' di Stacciarini: o caminho de acesso 'como é hoje'





Num intervalo, na busca pela compreensão da trajetória de Guglielmo e Giovanna, identifica-se a paisagem atual, o caminho econtrado nos dias de hoje, provavelmente pouco alterado pela história, além de uma possível diminuição na estrutura 'verde'.

Os campos em 1896 estavam mais adensados em vegetação.

Hoje, chegando em San Leo, tem-se acesso a uma micro-região - pertecente ao Comune, que se chama 'Colina'.

Faz jus aos componentes rochosos de San Leo e onde ainda é, hoje, conhecido como "Casarão Stacciarini". Isso foi descoberto em San Leo, andando na cidade e conversando com pessoas e comerciantes, me apresentando´- perguntaram por mais de uma vez: o Sr. Não conhece a "Casa Stacciarini" - e completavam 'é una bellissima casa, qui vicino, in Colina'.
Então (io) perguntava: 'Come faccio andare fino a questa casa?'

Assim descobri o caminho até o Casarão Stacciarini - essas imagens desejo revelar como parte mais emocionante da estada em San Leo, e de todos que desejam um dia conhecer esse pedaço indescritível da Itália, sobretudo para descendentes da família.
E como descedentes, deverão ter o interesse em visitar onde morava a família Stacciarini, precisamente o Conti Stacciarini. Inevitavelmente passarão por este caminho.

As fotos dessa postagem ilustram o aceso a "Colina" e posteriomente ao Casarão (com uma relação ao casamento do casal Giovanna e Guglielmo). Isso 'dopo' - após, tempos depois da visita do ilustre Giuseppe Garibaldi e sua amada Anita. Isto pois, que em 1º de Julho de 1849 foi decretada a queda de Roma e Anita ferida na guerra que apoiava, lutando ao lado de Garibaldi. Dali tentaram exílio em San Marino. Mas com Anita ferida ficava difícil a viagem. Foi então que o nobre casal recebeu o apoio do Casarão Stacciarini, onde foram recebidos pela família e acolhidos sem reservas - até o momento em que se figuravam seguros.

Estas fotos ilustram hoje o caminho de acesso ao "Ca' di Stacciarini".
A designação Ca' em italino sintetiza a expressão "Casarão".
Esse caminho percorrido pelos nossos ancestrais ligava (liga) a localização do Casarão com San Leo e San Marino.

Atualmente o Casarão foi transformado em um hotel voltado ao agriturismo e recebe o nome Ca' Del Santo. Não soube ainda o motivo da nova designação do nome, já que na região local todos ainda hoje chamam de 'Casarão Stacciarini'.

sábado, 25 de abril de 2009

Ainda na Itália......




Giovanna e Guglielmo acompanhavam as notícias e a crise que assolava a Europa em meados de 1896.
Os indícios que levariam o casal Stacciarini a deixar sua pátria sustentam-se (também) na possibilidade de novas oportunidades na América. Mas tudo leva a crer que os motivos foram além disso.

Diante do processo de imigração (buscando-se explicações para a saída repentina de Guglielmo e Giovanna), registra-se, o que disse um italiano (na época) ao Ministro de Estado, sobre o propósito das razões que estavam estimulando a imigração dos italianos:

"Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro?
é a massa dos infelizes?
Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco.
Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho.
Criamos animais, mas não comemos a carne.
Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa pátria?
Mas é uma pátria a terra em que não se consegue viver do próprio trabalho?"

(http://www.imigrantesitalianos.com.br/)

A verdade é que o casal italiano Guglielmo e Giovanna estavam felizes com os filhos nascidos consecutivamente, um após outro, e integrando a prole linda que refletia a intensa história de amor dos dois.

Giovanna era San Marinense (de San Marino), da nobre família Stacchini, e frequentava a sociedade da época, isso, foi um dos motivos do encontro junto ao seu amado Stacciarini, por quem se apaixonou desde o primeiro momento que o viu.
Explicação que entederemos mais tarde: o começo desse grande amor.

Giovanna, chega ao Brasil, com seus sete filhos e marido, aos 33 anos de idade, já com seu filho mais velho, Angelo, tendo 12 anos. O que explica sua intenção com o esposo, de uma família grande e que era também o desejo de Guglielmo.
Um fato, é que, especialmente com Cirilo tão novo, não era em nenhum momento, a intenção de Giovanna deixar a Itália, e sobre isso, influenciou ao que pode seu marido: A resistência de deixar a Itália. Isso foi adiado até o último momento!

Mas isso ainda não explicou os motivos da vinda ao Brasil - além da crise financeira na Europa, visto que Guglielmo (e sua prole) integrante da linhagem do Conde Stacciarini, havia (m) ocupado-se do casarão em San Leo e viviam com abundância e progresso.

Um tempo antes disso - quando Guglielmo ainda estava por nascer, vale mencionar, a chegada de um ilustre hóspede ao casarão do Conde Stacciarini: o mártir Giuseppe Garibaldi.

Nota: A foto ilustra a entrada do Casarão do Conde Stacciarini, em San Leo (Colina) - como é hoje, e foi por esse caminho que a família Stacciarini, na época, recebeu Giuseppe Garibaldi, que dali tentaria se exilar em San Marino.
E, por este mesmo caminho, saíram, às pressas - o casal e seus filhos (em 1896), rumo a decisão que Giovanna não gostaria que tivesse sido imposta pelas circunstâncias - ir para o Brasil.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

01 de Março de 1896: A chegada ao Porto de Santos



Papà qui´è Brasile? perguntava Angelo ao seu pai. Guglielmo e Giovanna - que segurava Cirilo no colo - entrentanto, estavam aliviados de aportar em terra depois de quase cinquenta dias em alto mar e tantos anseios e percalços .

Guglielmo mal pode dizer ao filho: - aspetta figlio mio!!!!!!!!

Olhava atento ao horizonte do porto de Santos que na época tumultuava-se com acontecimentos políticos (também), visto que a Guerra de Canudos havia influenciado o espaço geográfico. Além da recém abolição da escravatura. Guglielmo, deixava-se, entreanto, levar pelo cheiro do Brasil, a imagem da marina em Santos, o jeito característico das cores de pele, a brisa do mar, e todo o novo desenho que curiosamente o despertavam para a admiração.

Só então consegue balbuciar (algo como):
- Figlio mio, quì è nostra nuova casa!
E suplementou à mulher: - Giovanna, 'siamo' Brasile!

As outras crianças, Rita, José, Eliseo, Maria e Florida juntavam o pouco de coisas que conseguiram embarcar em Gênova. Muito se havia perdido em toda a viagem por terra, cruzando a toscana, desde San Leo - de onde, a partir de agora só se 'viveriam' em pensamentos e nostalgia.
O tempo deles, sua terra, seus títulos, agora estavam do outro lado do oceano.

Com os olhos cheios de lágrimas, Giovanna segura Cirilo, embrulhado em uma manta, para protegê-lo da chuva fina que fazia em Santos no dia 01 de Março de 1896. Angelo puxava os irmãos e, todos olhavam atentamente para o mundo novo que se descortinava sob seus olhos. A terra Brasile!

O Edilio Raggio, a casa dos últimos cinquenta dias, aportava junto ao porto, em meio a empurrões, gritos, choros e lembranças.
Ouvia-se ao longe os primeiros arcodes da nova língua - o português: de que os imigrantes deviam ir por ali, descer por aquela direção, mas apenas entendiam que seriam levados para algum lugar.

Corajosamente, chegavam ao Brasil, Guglielmo Stacciarini e Giovanna Stacchini Stacciarini com seus sete filhos.