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As fotos da postagem mostram a original certidão de casamento do jovem casal Guglielmo e Giovanna; depois um detalhe da Igreja em San Leonardo, onde se casaram e o caminho de entrada na cidade de San Leo, por onde passariam noivos, famílias e convidados. Outras imagens, o caminho percorrido pelos noivos indo para o Casarão Stacciarini, a paisagem, e onde morararia nosso idolatrado casal ancestral..... até a vinda definitiva para o Brasil.
Imagens que permaneceram no imáginario de Guglielmo - sempre, e, também, nas lembranças e recordações de Giovanna.
Angelo, o filho mais velho do casal, bem mais tarde, sempre perguntava ao pai quando voltariam a ver Colina....
-
Un giorno figlio mio, noi siamo a ritornare in nostra casa na Itália! Sì, noi siamo andare circa de Colina e di San Leo, ma qui in Brasile anche nostra casa, vá bene? dizia Guglielmo a Angelo....
Guglielmo pensava calado: Dio mio, che cosa é nostro Casarão in questo giorno? Come stai? Dio mio..... (Nesse tempo... Angelo já era moço feito e logo se casaria com uma, também imigrante.
Como o filho mais velho, sério e responsável, tinha saído ao pai.
E por isso, dos sete filhos vindos da Itália, ele era o que mais se recordava de tudo e sabia bem que sua vontade de voltar a Itália não dependia apenas dos seus pais. Ele mesmo já havia se encantado com o Brasil.)
Mas ainda era o dia do casamento......Il MatrimonioA manhã de Giovanna foi curta já que o casamento estava marcado pela meia hora do dia.... desde o café, Giovanna, vistas a sua vida nova....era anciosa....
A viagem para o casamento devia se começar, pois deviam rumar até a Catedral de San Leonardo.
Começavam os preparativos para a ida ao casamento: saia de San Marino toda a família Stacchini. O vestido, Giovanna só usaria na chegada a San Leo. Pertences, presentes e outras coisas seguiam com a família.
Da Igreja todos levariam Giovanna já casada para sua nova casa, em Colina.
Fazia a belissima manhã de 12 de Setembro de 1886.
Faziam quase exatos quatro anos de namoro e noivado....
Giovanna tinha 21 anos e Guglielmo completado os 28.
Marchavam amigos e uma comitiva de San Marino.... sequer viram chegar em San Leo e...
Até o ouvir do padre....
Signore Guglielmo Stacciarini
È il loro libero arbitrio che accetta come sua legittima moglie, a Signora Giovanna Stacchini, la sua promessa di amore e rispetto la sua fino all'ultimo giorno della sua vita?
Guglielmo enche o peito e aclama: - Sì
Signora Giovanna Stacchini
È il loro libero arbitrio che accetta come suo legittimo sposo, o Signore Guglielmo Stacciarini, la sua promessa di amore e rispetto la sua fino all'ultimo giorno della sua vita?
Giovanna sorri: - Sí acetto.Olham-se, ela com olhos cheios de lágrimas, ele completamente tomado de amor por ter logo sua carissima no calor do seus braços.
A nona e a mãe de Giovanna também eram só choro e soluços.
Seu pai disfarçava mas com o lenço enxugando a testa, limpou os olhos e ajeitou os bigodes.
A família Stacchini, tão contente e alegre ensaiou um grande aplauso para os noivos e, todos de pé, ouviam sinos e o órgão da Igreja tocado pelo jovem amigo Paolo Bevilacqua. A marcha nupcial lindamente orquestrada levava o jovem casal, agora marido e mulher, para a saída da Catedral.
As amigas de Giovanna e amigos, esperavam na porta com um laço de fita atravessado pelo caminho... os noivos agora casados deveriam romper as fitas e seguir para a nova vida..... as meninas menores não deixavam de tocar o vestido de Giovanna, sinal de 'auguri' (sorte).... para quando fossem moças encontrar um bom marido.
Os costumes italianos todos cumpridos... e aquela manhã de Setembro marcava o começo da grande família que formaria, especialmente esse casal.
Frutificariam centenas de novos Stacciarinis......um só casal, este - Giovanna e Guglielmo.... mas numa terra distante dali.
Seus filhos, dariam continuidade a história da Itália e do Brasil.
Alguns desses Stacciarinis, hoje, correm os olhos por estas linhas, numa energia cetenária, secular.... para redesenhar a nossa própria história e de alguma forma agradecer, numa prece particular, a cada um, que nunca estivemos sós...
Nesse dia de Setembro, nonos e nonas de duas particulares famílias de San Marino rezavam juntas para que seus filhos fossem muito, muito felizes.
E foram....
Como nós seremos e estamos sendo....
Porque a coragem de um casal que larga seu país, sua casa, suas vidas e parte com sete crianças, sendo um de colo: Cirilo com apenas um ano de idade... para uma terra desconhecida, com praticamente a roupa que vestiam, além da sua enorme inteligência e vontade de trabalhar dia a dia;
E vence nessa terra distante, adquire bens, patrimônio,e... não se esquece de festejar, continuam alegres, fazer inúmeros amigos, tornam-se cafeeiros, fazendeiros, e hoje, onde estejam... sabem da prole riquissíma que constituíram: centenas de netos, bisnetos, e filhos destes...... e filhos dos filhos.... numa árvore genealógica iniciada por Elisa e Alessandra e Lucia e...netas de netos de Giovanna -
hoje no Brasil.Sí, "Siamo tutti Stacciarini"... Siamo felici e siamo uma raça forte e guerreira. Porque não são os ventos do oceano que fizeram abalar nossos avós, não serão os ventos desse novo tempo que nos farão...
Eles, Giovanna e Guglielmo, já vinham preparando a nossa chegada ao Brasil, muito, muito tempo antes de hoje....
Nesta referida manhã de Setembro de 1886.....
Em San Leonardo.... casavam-se..... e nós nascíamos!!!!
Estavámos, neste dia de Setembro, no ventre do Universo.
O casamento foi realizado na Cattedrale di San Leone, uma bela construção do século XXII, com todas as regalias de um casamento do filho do Conde Stacciarini com a tradicional e rica família Stacchini de San Marino.
Saíam da Igreja, nesse momento, uma Giovanna sorridente, por dentro a gritar, berrar de alegria.... e um Guglielmo menos sisudo, segurando firme na mão da sua amada, protegendo-a, como faria até o último suspiro de sua vida. Não largaria mais essa mão, tão doce e, desciam assim, as escadas de San Leo......
À saída da Igreja, as mulheres de San Leo, forraram o caminho dos noivos até o patio da festa, com ricos tecidos, por onde, em um corredor de convidados... e recebiam mãos de todos os lados.....
Seria servido um almoço no pátio da Catedral, na Piazza Dante Alighieri, de lá a festa continuaria no Casarão Stacciarini, agora a nova residência de Giovanna.
O almoço do casamento foi organizado pela família Stacchini e um rico cardápio foi degustado:
Como era costume diário carnes e queijos da cozinha local, a mãe de Giovanna preferiu variar mandando buscar pescados frescos em Rímini...
Il primo piatto foram 'Tortellonis recheados com ervas ao molho de queijos' (pecorino e parmesão)
Il segundo piatto foi 'Maccheronci con le sarde' e para convidados que não comiam peixe, foi servido 'Scottiglia di Cinghiale'
Il terzo piatto: uma refrescante 'Panzanella'
A sobremesa um belo 'Tiramisù'... havia também Panforte e Cantucci... Ricciarelli e licor de vino santo.
Seguido de fresco café.
Durante todo o almoço se pode apreciar belos vinhos... no início un Verdicchio e Orvieto, dopo un nobile Vinho Montepulciano.
Crostinis foram servidos fora da Igreja desde antes do início do casamento e doses de Orvieto para os italianos mais velhos, também, nascos de fortes queijos montanheses feitos na própria casa de Giovanna (queijos com ervas, codimentados e curtidos com técnicas toscanas).
Muitos convidados....... falantes, e muitas amigas de Giovanna, SanMarinenses, sorriam e olhavam para os tímidos rapazes de San Leo.... as matriacas competiam em suas guloseimas, já que o almoço em San Leo era só o começo dos quitudes. Todos estavam felizes.... e agora haveria cantoria até lá pelas quatro da tarde quando rumariam para o Casarão...e a festa prevista para terminar no dia seguinte, seguiria até la Lunedì (segunda-feira).
Notas:Maccheronci con le sarde = clássico prato do sul da Itália, leva sardinha, erva doce, uva, pinhão, farinha de rosca e açafrão.
Panzanella = salada feita com tomates, cebola e alho, e pão embebido em azeite e temperado com manjericão fresco.
Scottiglia di Chinghiale = preparado com carne de Javali, prato especial do sul da Toscana.
Tortelloni = versão ampliada dos Tortellini, massa recheada com carne, queijo, ervas.
Panforte = bolo compacto salpicado com canela e cravo da índia
Ricciareli = preparados com amêndoas moídas, casca de laranja e mel.
Cantucci = biscoitos toscanos geralmente servidos com vin santo, um típico vinho licoroso.
Crostini = entradas feitas com pães, torradas, cobertas com creme de anchovas, azeitonas, fígados e tomates. E azeite de oliva.
Vino Nobile de Montepulciano = feito com mesmas uvas do Chianti (uva Sangiovenese, típica da Toscana), vindo da aldeia de Montepulciano. Trazidos pelo irmão de Giovanna, que pessoalmente inspecionou a safra dos tonéis.
Verdicchio = vinho branco seco da Marche com sabor forte. Enviados pelos amigos do pai de Giovanna.
Orvieto = branco e mais doce, conhecido como Abbocato.
Foram inúmeros os presentes do casal. Incluia: Prendas caseiras feitos pelos moradores de San Leo, todos mandaram presentes e estavam na grande festa; até ricos regalos de San Marino (movéis, bordados, prataria, e pedaços de ouro); também, Carneiros e matrizes; galinhas; porcos; novilhos; e até uma carroça nova, enviada pelo amigo do Conde, o Duque de Montefeltro. Tecidos e perfumes, quadros e uma família de trabalhadores de San Leo, até mesmo ofereceram sua filha para ser dama pessoal de Giovanna e ajudar a cuidar dos seus futuros filhos.
Rememorando:
À saída da Igreja, as mulheres de San Leo, forraram o caminho dos noivos até o patio da festa, com ricos tecidos brancos, por onde, em um corredor de convidados, eram aplaudidos ao mesmo tempo que recebiam mãos de todos os lados, naquele jeito espontâneo do povo da Itália....e, sempre com as meninas pequenas se espremendo no meio dos adultos para chegar até a beira do tapete de tecidos, e assim tocar levemente no vestido de Giovanna... que dizia elegantemente a todos:
- Grazie! Grazie! Grazie tutti!